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Domingo, 06 de Outubro de 2024

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Papo de Bateria - Análise dos ensaios dia 26 e 27/03

Análise das baterias nos ensaios de 26 e 27 de março.

Papo de Bateria - Análise dos ensaios dia 26 e 27/03
Feras do Samba
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Papo de Bateria

Análises dos Ensaios Técnicos dos dias 26 e 27 de março.  

Dia 26 de Março - Série Ouro

Inocentes de Belford Roxo

A estreia de Mestre Juninho, com seus vinte e poucos anos, à frente da Cadência da Baixada foi próxima de correta. Uma bateria mais pesada foi notada, com a afinação mais grave dos surdos. O andamento da batucada se manteve constante por toda a pista. Desempenho correto no acompanhamento das peças leves, com ênfase sonora para o naipe de tamborins, com aproximadamente 40 ritmistas, o que para grupo de Acesso é praticamente um luxo. O destaque nas bossas vai para os surdos de terceira, que ainda são desenhados através da melodia do samba. Produziram boa sonoridade usando duas macetas em determinados trechos das paradinhas. O que também remetia conceitualmente ao maracatu de baque virado, quando as alfaias (bombos) são tocadas por duas baquetas possuindo um som característico, sem contar que na bateria da Inocentes também tinha um xequerê, que na cultura do Maracatu é chamado de agbê. Elevar culturalmente o enredo da escola (sobre a Noite dos Tambores Silenciosos) e atrelar conceitualmente a sua musicalidade foi um ponto positivo do ritmo produzido. O arranjo musical de virar a bateria para a entrada do refrão de baixo deu uma variação sonora interessante, auxiliando a plena audição das peças após o trecho. As paradinhas foram conduzidas por boas escolhas musicais, envolvendo alta complexidade na criação, além de uma precisão perto de satisfatória. O único breque ainda preocupante é o da cabeça do samba, onde a batucada sobe "no vazio". Algumas imprecisões foram notadas nesse trecho, mas é impossível deixar de mencionar a sonoridade sofrível, com volume elevado e por vezes distorcido do carro de som, que acabou dificultando demais a retomada, principalmente em momentos que a batucada para por completo. Já próximo do segundo recuo a parte de trás da bateria, localizada mais a esquerda acabou tendo um leve desencontro, corrigido em questão de segundos. Nada que manchasse o bom desempenho dos ritmistas da Inocentes de Belford Roxo sendo dirigidos pela primeira vez por Mestre Juninho.

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Acadêmicos do Sossego

A Swing da Batalha de Mestre Laion fez uma boa apresentação, mostrando solidez rítmica. A conversa entre os mais diversos naipes permitiu uma fluência sonora consistente junto ao melodioso samba da escola. A batucada se aproveitou das nuances melódicas para consolidar seu ritmo. O acompanhamento das peças leves ficou marcado pela sincronia de uma ala de tamborins com toque firme, alto e chapado aliada a uma ala de agogôs que pontuava os desenhos melódicos do tamborim de forma cirúrgica, baseando musicalmente as convenções em cima da melodia. O equilíbrio entre as peças foi permitido graças a uma afinação de surdos extremamente privilegiada, dando uma sonoridade ímpar a batucada. O bom balanço dos surdos de terceira foram notados, assim como a execução das paradinhas utilizando duas macetas, buscando basear as batidas nas variações rítmicas obtidas através do pleno encaixe entre batucada e samba. As paradinhas apresentaram um leque amplo de musicalidade, elevada complexidade de criação, boa desenvoltura e uma execução firme. A bossa que inicia no refrão de baixo, prosseguindo na cabeça do samba faz os ritmistas tocarem abaixados e se levantarem para retomar o ritmo, sendo propiciada pela boa educação musical. A aliança entre ritmo seguro e dinâmica interativa também foi obtida na paradinha do refrão do meio, onde antes da retomada na segunda do samba a bateria saúda o público, sendo recebida com boa aceitação e certa ovação. Nesse momento, porém, a harmonia da escola poderia ter respeitado a apresentação da bateria e ter evitado que a escola andasse. Alguns ritmistas foram desalinhados pela necessidade de andarem lateralmente, enquanto seguiam cumprimentando a plateia. É necessário um alinhamento para que a evolução da escola se prepare e adapte para uma apresentação que, diante do juri, precisa demais da colaboração de uma harmonia que deixe a bateria exercer seu papel rítmico, na tentativa de também tratar a festa como espetáculo. Se bem orquestrados, tendem a ser momentos de potencial vibração popular. Mestre Laion tem motivos de sobra para ficar orgulhoso com o desempenho de seus batuqueiros no ensaio, além de ansioso com o que a bateria do Sossego é capaz de mostrar no desfile oficial.

Acadêmicos de Santa Cruz

A bateria Tabajara da Zona Oeste de Mestre Riquinho teve um desempenho mediano encerrando a noite de ensaios. As peças leves tiveram uma passagem pela pista que se aproximou de correta. Houve falta de padronização nas batidas das terceiras e ausência de uniformidade na batida das caixas de guerra, mas essa com nível de coesão rítmica a contento, graças a qualidade dos batuqueiros. Oscilações infelizmente foram percebidas pela pista, envolvendo as marcações de primeira e segunda. Alguns marcadores, também influenciados pela fragilidade do carro de som, podem ter confundido firmeza com agressividade. O problema da pancada no surdo ser mais forte que o ideal é que amplia o risco de variações de ritmo no entorno do marcador, bem como abre brechas para choques rítmicos entre naipes, enquanto a instabilidade ainda se faz presente. O mesmo problema também aumenta a chance de imprecisões em execuções de paradinhas e suas respectivas retomadas. A bossa de impacto da escola é a do refrão de baixo, que reúne ritmo a uma parada para saudação ao público e módulos de julgamento. A execução segura da constante paradinha da cabeça do samba merece ressalva positiva, pelo arranjo musical e boa sonoridade. A bateria do Acadêmicos de Santa Cruz precisa de ajustes em alguns detalhes visando a limpeza da execução de movimentos, entretanto a capacidade e bagagem de Mestre Riquinho podem auxiliar no aprimoramento final da batucada para o Carnaval.

Dia 27 de Março - Grupo Especial 

Unidos da Tijuca

A bateria da Unidos da Tijuca de Mestre Casagrande fez uma apresentação muito boa. A Pura Cadência seguiu à risca seu nome, mantendo o andamento mais para trás durante toda a pista de desfile. O acompanhamento das peças leves ocorreu de forma correta. A ala de chocalhos segura e tocando com firmeza teve bom entrosamento com um naipe de tamborins que executou um desenho rítmico pontuando a melodia do samba com simplicidade e funcionalidade. A sonoridade dos tamborins engloba um carreteiro mesclado com variações de 2 x 1 e 3 x 1, uma marca da batucada tijucana há muitos anos. O som identitário obtido pela ala de tamborins da Tijuca  casa perfeitamente com o naipe de caixas sólido e consistente da escola. O toque das caixas de guerra é um capítulo à parte dentro da bateria da Tijuca. Batida uniforme, limpa e tocada na mesma frequência. Serviu de base rítmica de notável ressonância acústica. Foi um domínio técnico pleno, aliado a uma execução impecável. O equilíbrio rítmico foi permitido graças a uma afinação de surdos acima da média, aliado a marcadores de primeira e segunda que executaram seus movimentos com leveza e precisão. O balanço envolvente proporcionado pelos surdos de terceiras foi notado. As construções musicais envolvendo as paradinhas são pautadas no melodioso samba tijucano, se aproveitando das nuances para dar embalo a batucada em determinados trechos. Se destaca a bossa do refrão do meio, onde ritmistas fazem alusão a uma dança indígena ritmada, para um lado e para o outro.
A dinâmica contou com boa recepção do público das arquibancadas. A escolha em algumas paradinhas foi que parte dos tamborins entrasse no corredor da bateria para fazer a convenção, na tentativa de dar mais segurança à galera da cozinha nas retomadas. Aliás, as subidas nas voltas das bossas evidenciaram uma educação musical exemplar, principalmente das marcações da batucada. Mestre Casão e os batuqueiros da Unidos da Tijuca estão de parabéns pela forma como conduziram o samba da escola, bem como pelo ritmo de qualidade produzido na abertura da noite de ensaio

Beija Flor de Nilópolis

A bateria Soberana da Beija Flor de Nilópolis teve um desempenho excelente no ensaio técnico. Os Mestres Rodney e Plínio conduziram seus comandados com a paciência e serenidade de sempre. Os arranjos musicais deram ênfase às variações melódicas do samba nilopolitano. A musicalidade obtida pelos batuqueiros impressionou pela extrema educação, aliado a movimentos seguros e um andamento cadenciado que permitiu uma conversa rítmica, cuja fluência entre os naipes era o ponto mais alto de toda bateria. Tudo propiciado por uma afinação de surdos feita com bastante esmero. Uma verdadeira aula de coletividade sonora. O intuito musical de cada arranjo ou convenção era agregar ao ritmo com consistência e solidez. Dentro desse prisma, o mais valioso para cada naipe não era aparecer além dos demais, mas sim preencher musicalmente a batucada com toques cheios e corretos. O molho inconfundível e peculiar das frigideiras foi percebido. As peças leves sincronizaram uma ala de chocalhos com firmeza e coesão a um naipe de tamborins com um toque chapado que, diante de tanta precisão, parecia somente um por toda a Avenida. Os breques e paradinhas deram complexidade a um batuque que privilegiava a simplicidade, mostrando bom dinamismo sonoro e levantando a obra nilopolitana pelo percurso do desfile. O destaque fica para a escolha musical de grande acerto da bossa do refrão do meio. Foi possível perceber uma subida progressiva no trecho "nossa gente preta" que proporcionou uma sonoridade ímpar, além de uma acentuação rítmica utilizando contratempos na segunda passada do mesmo refrão. A sensação era de que simplesmente a bateria fazia o samba "flutuar" pela pista nesse trecho. Já a paradinha da cabeça alia ritmo a boa desenvoltura, com os ritmistas seguindo ao pé da letra o samba, erguendo os punhos e exigindo igualdade com o fim do racismo. "O Grêmio do gueto resistiu" e sua batucada invariavelmente reluziu. Os Mestres da bateria da Beija Flor ficaram certamente felizes com a apresentação, além de esperançosos quanto à avaliação de sua batucada pelos jurados. 

Acadêmicos do Salgueiro

A bateria Furiosa dos Mestres Guilherme e Gustavo fez uma ótima apresentação, encerrando uma noite de alto nível das batucadas envolvidas, cada uma com sua característica e pegada. Uma bateria do Salgueiro grave e pesada, com uma afinação de surdos que é parte do DNA do ritmo salgueirense. O toque vibrante dos marcadores foi notado, assim como o balanço dos surdos de terceira, que constituem parte da essência e fundamento da escola branca e encarnada do morro do Salgueiro. Se o enredo é sobre Resistência, o próprio  batuque atrelado a sua raiz produzido pela Academia é motivo de merecida menção e exaltação.  O acompanhamento com as peças leves se deu através de um naipe de chocalhos extremamente eficaz e com boa sonoridade. Tudo isso entrelaçado musicalmente com uma ala de tamborins com uma convenção rítmica que explorou a melodia da obra de modo funcional,  pontuando de forma coerente e dando ao samba enredo o que ele pede. O desenho de tamborim simples do refrão principal facilita na interação com o público, ao combinar duas subidas curtas seguidas de braços balançando para as arquibancadas, além de carreteiro na primeira passada e afoxé na segunda. Foi possível perceber de forma clara a empolgação dos batuqueiros cada vez que uma paradinha era executada de maneira precisa e consistente, assim como ocorreu ao longo da pista. O clima era de leveza e alegria. A musicalidade da bateria salgueirense aliou bossas de elevado grau de complexidade e dificuldade a uma atuação sólida. A paradinha do refrão de baixo junta a pressão da batucada a uma desenvoltura que foi ovacionada, envolvendo os ritmistas se ajoelhando com os punhos erguidos igual a logo do tema do Acadêmicos do Salgueiro. Um ato audiovisual que promete vibração popular coletiva, com inegável simbolismo cultural e imponência racial. Os Mestres Guilherme e Gustavo voltaram com os instrumentos para a rua Silva Teles contentes e com motivos para comemorar uma passagem que cada vez mais consolida o trabalho valioso dos dois irmãos na bateria do Salgueiro. É seguir trabalhando nessa reta final no mesmo pique, em busca da almejada nota máxima!

 

Comentários:
Freddy Ferreira

Publicado por:

Freddy Ferreira

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