Papo de Bateria
Análises dos Ensaios Técnicos dos dias 12 e 13 de março.
Dia 12/03 - Série Ouro
Em Cima da Hora
A bateria de Mestre Wando teve uma noite com começo preocupante, mas depois do susto inicial, seguiu seu ritmo evoluindo gradativamente para uma apresentação próxima de correta. Para a arrancada do samba a bateria subiu no andamento certo, mas houve um descompasso com atraso entre o que o carro de som cantava e o que a batucada tocava. O desencontro trouxe preocupação, sendo solucionado fechando a bateria para subir novamente. Apesar disso, o batuque da Sintonia de Cavalcante foi ficando consistente através do desfile pela pista. A medida que o tempo passava, o relaxamento com a situação foi permitindo que os ritmistas se soltassem cada vez mais, produzindo um som de maior qualidade.
Império Serrano
A bateria do Império Serrano produziu um som de qualidade exemplar, com uma batucada irrepreensível na estreia avassaladora de Mestre Vitinho, filho de Mestre Faísca. Pouquíssimo acanhado, o novo mestre ousou com bossas criativas, que mesmo com alto grau de dificuldade foram executadas com qualidade e desenvoltura. Destaque para a paradinha com solo dos berimbaus, com a sempre luxuosa contribuição dos agogôs da Serrinha. Além do domínio técnico no ritmo a Sinfônica do Samba fez uma apresentação alegre, leve e solta. A felicidade do novo comandante e a bateria segura da escola formaram um conjunto que impulsionou a obra imperiana, transmitindo a sensação do surgimento de um possível legado. Assim como diz um dos refrões: "Filho de Faísca é fogo se entra no jogo é pra incendiar!".
Lins Imperial
A bateria do Mestre Átila, mesmo com cinco meses de comando, conseguiu apresentar características próprias de seus trabalhos. A organização do ritmo por fileiras e a cobrança do Mestre por sorrisos de seus comandados pedindo alegria e animação foram notadas. Suas paradinhas buscaram ter certa movimentação dos ritmistas na pista, na tentativa de cativar o público. Em destaque a bossa do refrão do meio, quando a bateria passa a tocar feito a de Mangueira, mas carece de maior precisão em seu início para valorizar ainda mais seu conceito criativo. Ainda há tempo até o desfile para a realização de ajustes na batucada da Lins Imperial, onde foi possível perceber um desempenho ligeiramente superior das peças leves em relação ao ritmo da cozinha. Com a capacidade e experiência de Átila o treino de hoje certamente serviu para identificar onde dar um gás final visando o desfile oficial.
Dia 13/03 - Grupo Especial
Imperatriz Leopoldinense
Uma atuação magistral da bateria de Mestre Lolo.
Manutenção de andamento impecável, com um conjunto de paradinhas irretocável. Ritmistas seguros de suas ações, curtindo o samba e executando movimentos com firmeza. A conversa entre os naipes ocorria com uma fluência rítmica impressionante. Por vezes a impressão da pista era de que se tratava de uma "bateria de estúdio", tamanha precisão na execução de bossas de extrema dificuldade, sem comprometer a cadência e mantendo constantemente o pleno equilíbrio entre as peças.
A Swing da Leopoldina tirou som de cada instrumento com uma educação musical que merece ser exaltada. Um dos trabalhos mais maduros e consistentes da batucada da escola de Ramos nos últimos tempos. E olha que, quando o assunto é Mestre Lolo e bateria da Imperatriz, o sarrafo sempre está no alto. Ainda assim, todas as expectativas foram cumpridas com maestria. Um verdadeiro e autêntico sacode!
São Clemente
A Fiel Bateria da São Clemente teve o menor contingente da noite e fez uma apresentação bem próxima de segura e correta. As bossas da bateria de Mestre Caliquinho foram elaboradas com ousadia, contribuindo com a irreverência e leveza do samba clementiano. A única ressalva a ser feita em relação a execução das paradinhas é quanto ao andamento em suas retomadas. A atenção na reta final dos ensaios merece ser redobrada, para que não ocorram oscilações na pista de desfile. Unir técnica de ritmo ao controle emocional sempre será desafiador para qualquer batuqueiro. Ritmista é ser humano, logo é suscetível a emoção e empolgação conduzindo suas ações. O próprio retorno positivo do público pode animar a galera a ponto da batucada apresentar leves desencontros, que logo são desfeitos quando tudo parece se assentar ritmicamente, segundos depois. Num julgamento de bateria cada vez mais criterioso e com o alto nível do Grupo Especial pode acabar sendo o "pelo em ovo" que um julgador busca despontuar. O alerta cabe não só a escola de Botafogo, como também de forma geral.
Portela
A bateria Tabajara do Samba do Mestre Nilo Sérgio teve um bom desempenho ao fechar a primeira noite de ensaios do grupo Especial. O ritmo inconfundível produzido pelo naipe de caixas portelense, aliado a um trabalho equilibrado com as peças leves proporcionou aquela sonoridade peculiar pelas bandas de Oswaldo Cruz. O destaque vai para a paradinha de elevado grau de dificuldade do refrão de baixo, onde as caixas de guerra possuem papel crucial e a execução esteve sublime. A única preocupação fica por parte dessa bossa extremamente bem construída e trabalhada. Pois há uma exigência rítmica intensa por parte dos braços dos caixeiros, que ainda sobem tradicionalmente rufando após a chamada do repique. É ter atenção para não "largar o braço" demais na execução, evitando assim ampliar o risco de desencontro e emboladas na subida. Nada que não possa ser resolvido pela Bateria da Portela, com sua reconhecida competência e consistência ao longo dos anos.
FONTE/CRÉDITOS: Freddy Ferreira
O texto acima expressa a visão de quem o escreveu, não necessariamente a de nosso portal.
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