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Domingo, 06 de Outubro de 2024

Colunas/Geral

Papo de Bateria - Análise dos Ensaios 09/04 e 10/04

Análise dos Ensaios de sábado 09/04 e Viradouro dia 10/04

Papo de Bateria - Análise dos Ensaios 09/04 e 10/04
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Papo de Bateria 

Análises dos Ensaios Técnicos dos dias 09/04 e 10/04

Dia 9 de Abril - Série Ouro

Unidos de Bangu

A bateria Caldeirão da Zona Oeste (CZO) de Mestre Léo Capoeira se apresentou de forma sólida, com uma bateria recheada de alternativas musicais. Uma atuação que conseguiu aliar ritmo seguro à ousadia. Tudo proporcionado por uma afinação de surdos privilegiada, que amparou os demais instrumentos diante de um trabalho correto da galera da cozinha. Por parte das peças leves o destaque vai para a ala de chocalhos que, além de usar meiões vermelhos em alusão ao time do Bangu no enredo sobre Castor de Andrade, executou seus movimentos com precisão, limpeza e produzindo um som de qualidade. Agogôs e cuícas deram segurança aos acompanhamentos, assim como o trabalho firme e de boa sonoridade dos tamborins contribuíram no preenchimento da musicalidade. O leque de paradinhas da bateria da Unidos de Bangu é consideravelmente vasto. A concepção musical de ao menos duas bossas merecem ressalvas positivas. No refrão do meio há uma paradinha que na primeira passada une "tapas cheios" que marcam musicalmente o samba. Após fechar a bateria e retomar para a segunda passada do refrão foi possível perceber que os ritmistas passaram a tocar feito marchinha. Os surdos ficam  marcando, enquanto as caixas fazem o som característico, numa simbólica homenagem aos batuqueiros da bandinha do Bangu, que tradicionalmente tocam no estádio de Moça Bonita. Já na segunda do samba, uma bossa começa e termina fazendo menção musical a bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel. Tudo isso complementado por uma retomada entre os breques identitários em que a bateria da Unidos de Bangu fez subida de chocalhos "cascavel", executou batida de caixas da bateria Não Existe Mais Quente e inverteu suas marcações (com o surdo de primeira tocando segunda e vice versa). O balanço peculiar tem tudo para potencializar a sonoridade da apresentação, na tentativa de obter notas máximas. Uma verdadeira aula de criação musical na elaboração de paradinhas que contribuem e agregam culturalmente ao enredo da escola. A única nota triste do ensaio fica para o volume elevado do carro de som, que quase prejudicou a bateria quando se alinhou na pista saindo do primeiro recuo, devido a intensidade sonora em relação às cordas. Com o problema aparentemente contornado, o ritmo fluiu mais naturalmente. Mestre Léo Capoeira tem motivos de sobra para ficar satisfeito, além de otimista com a proximidade do Carnaval.

Unidos do Porto da Pedra

A Bateria Ritmo Feroz do excêntrico Mestre Pablo teve um desempenho correto. A personalidade de quem dirige a bateria, às vezes, influencia na concepção musical escolhida e é exatamente o caso de Pablo no comando da bateria da Unidos do Porto da Pedra. Os arranjos musicais, assim como a construção das paradinhas seguem uma linha arrojada e bem particular. É possível afirmar que o conceito constrói uma sonoridade relativamente densa, sem contar o nível elevado de complexidade das bossas. O destaque, de forma geral, vai para a participação eficaz dos ritmistas que tocam timbal, inclusive na largada, onde são responsáveis por subir a bateria. Praticamente toda sonoridade envolvendo as paradinhas tem participação efetiva do referido instrumento, sempre com segurança e preenchendo a musicalidade de modo sublime. Dentro desse prisma, a paradinha do refrão do meio no trecho "Já escutava a voz dos terreiros" possui musicalmente o melhor solo a ser exaltado pelo valor sonoro. No geral, a execução das bossas esteve a contento, com a do início da primeira do samba se apresentando como a mais desafiadora, além de proporcionar um notável balanço. A boa afinação de surdos proporcionou uma passagem relativamente segura dos marcadores. As terceiras vieram com desenho melódico durante todo o samba. Pequenos desencontros foram percebidos, nas proximidades do carro de som, onde também foi possível notar o elevado volume das cordas, por vezes prejudicando a manutenção do andamento e equilíbrio da batucada. Sempre contornados em questão de poucos segundos e sem gerar qualquer consequência maior para a bateria. O destaque no acompanhamento das peças leves ficou a cargo do naipe de tamborins, com um toque firme, mostrando coesão e bom volume. Agogôs e cuícas ajudaram a complementar junto a uma ala de chocalhos com uma só fila na cabeça da bateria e mais outros dois grupos menores perfilados dentro do ritmo da cozinha. A bateria da Unidos do Porto da Pedra de Mestre Pablo teve um ensaio produtivo, num misto de musicalidade e ousadia.

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Unidos de Padre Miguel

A bateria Guerreiros da Unidos de Padre Miguel (UPM) de Mestre Dinho fez um ensaio agradável. As afinações garantiram uma plataforma grave como base sonora. Infelizmente os marcadores tiveram desempenho prejudicado em alguns trechos da avenida, devido ao volume excessivo e certa inconstância do carro de som que acompanhava a escola. Principalmente em algumas retomadas, além da interferência no equilíbrio sonoro. O acompanhamento das peças leves foi executado de modo sólido e seguro por cuícas e agogôs, além de um naipe de chocalhos correto e tocando firmemente. Tudo isso interligado a uma ala de tamborins que se destacava com um desenho rítmico baseado na melodia do samba da escola, com toque coeso, boa sonoridade e limpeza dos movimentos. Cabe ressaltar a bela homenagem feita ao ex-diretor do naipe Eduardo Amorim, com os tamborins desfilando com a pele do nome escolhido por ele, que a ala abraçou e hoje se autointitula, Bonde dos Patetas. Dudu Pateta, mesmo no céu, deve ter ficado extremamente orgulhoso com o carinho, além do ritmo que fez jus ao seu apelido entre os amigos: "Alegria nos punhos". As paradinhas possuem elevado grau de dificuldade, mas foram executadas consistentemente ao longo do percurso de desfile. A bossa que musicalmente mais se destaca é a da cabeça do samba. Onde ocorre um solo de agogôs de duas campanas (bocas) e atabaques, seguidos de batidas ritmadas dos demais batuqueiros produzindo uma sonoridade complexa e de musicalidade notável. Outra paradinha que merece ressalva positiva é a do refrão de baixo, que além da produção de um ritmo envolvente dá ênfase aos atabaques tocados com baquetas, na segunda passada do estribilho. Atabaques tocados com baquetas remetem ao Aguidavi, varetas de percussão utilizadas no Candomblé com valor sagrado, o que agrega culturalmente à musicalidade da bateria, relacionando com o enredo de vertente africana da escola. A bateria da Unidos de Padre Miguel de Mestre Dinho fez um ensaio correto, tendo tudo para aprimorar ainda mais o trabalho rítmico no dia do desfile oficial.

Dia 10 de Abril - Grupo Especial - Teste de Luz e Som - Viradouro 

Unidos do Viradouro

A bateria Furacão Vermelho e Branco da Unidos do Viradouro de Mestre Ciça fez uma boa apresentação no teste de Luz e Som. Já o teste pode ter sido produtivo para a Luz, mas aquém do razoável no aspecto do Som. Mestre Caveira, apelido que herdou dos ritmistas e já adotou de modo popular, é um símbolo concreto de quem usa a comunicação audiovisual com o público a seu favor, conectando a sua bagagem e experiência. Raramente as passagens de suas baterias são voltadas somente para passar bem pela Avenida. Normalmente envolvem propiciar um show de interação com o povo, garantindo além de ritmo uma desenvoltura que busque dar espetáculo. A bateria da Viradouro ficou marcada por uma tonalidade grave com uma afinação de surdos que deixou a batucada particularmente pesada. Tradicionalmente as marcações ecoam de forma firme na escola do bairro do Barreto e dessa vez não foi diferente. Os surdos de terceira garantiram o balanço da galera da cozinha, complementados por caixas tocadas de forma identitária carregadas pelo braço e repiques com um notável swing.  O acompanhamento das peças leves envolveu um naipe de chocalhos correto, uma ótima ala de cuícas e tamborins que buscaram executar o desenho rítmico com firmeza, contribuindo com volume para a cabeça da bateria. A ala de tamborins executa um carreteiro com mescla dos toques de 2 x 1 e 3 x 1. A tradicional sonoridade do naipe  auxilia no preenchimento musical mais abrangente do toque peculiar das caixas da guerra da escola. Muitas paradinhas da bateria da Viradouro são executadas "no vazio", havendo necessidade de extrema atenção, além de ritmistas cantando o samba de forma que os tempos das retomadas sejam bem marcados mentalmente. A complexidade na concepção criativa das bossas se aproveita das notas musicais alongadas do ousado samba enredo da escola de Niterói, em formato de carta, bem como de suas variações melódicas pra lá de desafiadoras. A paradinha de maior impacto engloba uma variedade de solos de diversos naipes, amparados musicalmente por batidas de pratos entre trechos de um toque de caixas que remete às marchinhas. O clima com ares circenses promete momentos de potencial vibração popular. A única nota musical negativa fica a cargo do som da Avenida que ainda estava sendo testado e não pôde garantir uma execução impecável do samba enredo, dificultando a bateria em algumas retomadas e na manutenção do perfeito equilíbrio dos marcadores. A dificuldade ficou ainda maior dentro do segundo recuo, dada a inconstância no som e a distância do carro de som da pista, faltando percepção auditiva do samba para os ritmistas posicionados mais afastados do mesmo. No geral, Mestre Ciça tem motivos para ficar satisfeito com a bateria da Unidos do Viradouro, assim como otimista com sua busca pela aliança entre ritmo e emoção coletiva.

Considerações Finais

Cobrir as passagens das baterias de todas as escolas visando o Carnaval 2022 foi profundamente prazeroso e valioso. A sensação foi de aprendizagem semanal, enquanto bebia da nossa fonte cultural rítmica e me embriagava das sonoridades mais afloradas, além das concepções musicais cada vez mais consistentes e buscando a linha da excelência no ritmo. A tal procura pela "bateria perfeita" depende de tantos aspectos e fatores envolvidos que além de complexo é um tema que cabe até correlação com a tal beleza estética perfeita praticamente inalcançável dentro da sociedade contemporânea. O que é belo propaga um norte filosófico tão subjetivo como uma arte que envolve condução rítmica do gênero samba enredo. Tanto quanto ser humano, bateria de escola de samba também é conduzida através de essências e virtudes. Às vezes o mais bonito não é aquilo que reluz o que você quer aparentar ser. Por vezes a beleza mais profunda reside no que está dentro de si e não é dado o devido reconhecimento. O maior valor identitário de uma bateria de GRES é ser reconhecida pelo povo pela forma como batuca, pelas características que têm e por todo o fundamento, por vezes sincretizado inclusive junto a aspectos religiosos de demarcação histórica. O ato de produzir sonoridade com múltiplas peças é fascinante, mas a profundidade de colocar na Avenida uma bateria que atrele seu batuque a vínculos de identidade, agregando valor ao enredo de modo cultural faz com que todo o processo ganhe contornos mágicos. A tal "magia do Carnaval" pode morar na simplicidade de olhar para o interior com carinho e exaltar tudo que estiver intimamente ligado a tradições. Tanta musicalidade de inestimável valor, entretanto, merecia uma sonoridade pela pista alinhada com o nível de excelência, que de forma geral todas as baterias se esmeram e dedicam para produzir. Praticamente os mesmos carros de som de duas décadas atrás continuam sendo utilizados. Tudo com volume excessivo, que contribui negativamente para a saúde auditiva de todos os envolvidos no entorno. Portanto, todos os ritmistas merecem um som de qualidade mais digna. Algo que seja condizente com tanta dedicação ininterrupta da galera que abre as quadras das escolas para os primeiros ensaios e é a última a deixar a pista de desfile. A perpetuação e valorização do samba enredo enquanto gênero também passa exatamente pela capacidade auditiva do público que comparece aos ensaios. Se o povo que frequenta e não teve contato com as obras pouco pôde ouvir as mesmas após a passagem do carro de som das escolas, como a música será capaz de se eternizar na mente das pessoas? Não podemos desvalorizar o aspecto artístico extremamente valioso do samba enredo como música e do samba em geral como cultura nos ensaios técnicos. A impressão é que já passamos da hora de avançar tecnologicamente em prol de uma estrutura que valorize o autêntico e genuíno espetáculo das baterias das Escolas de Samba do Rio de Janeiro nos treinos para os desfiles oficiais.

 

Comentários:
Freddy Ferreira

Publicado por:

Freddy Ferreira

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